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Após 25 anos de trabalho, Hamilton Mendes conta como lida com as alegrias e frustrações dos jovens 

Em entrevista ao Driblador, Hamilton Mendes, atualmente treinador da categoria Sub-16 e 17 do Palmeiras e com passagens por clubes como Cruzeiro e Vitória, conta um pouco sobre como funcionam as categorias de base. Com 50 anos, o baiano trabalha com jovens de faixa etária entre 12 e 20 anos desde 1993, quando iniciou seu estágio de Educação Física no Vitória.

Mendes fala sobre como lida com as pretensões desses jovens em processo de formação educacional e social. O profissional que já exerceu também o cargo de preparador físico cita que, a vida atleta é muito difícil e requer alguns sacrifícios: "A vida do atleta é muito sacrificada. Eu sempre falo pra eles que, ser atleta de futebol é diferente. Tem que ter sacrifício". Confira abaixo nossa entrevista.

 

*Parte da entrevista foi concedida quando Mendes era treinador da Categoria Sub-20 do Vitória em 2016.

Foto: Divulgação/ Palmeiras

DRIBLADOR - Como começou a sua história no futebol?

HAMILTON MENDES - Eu fui atleta. Joguei nas categorias de base do Bahia durante cinco ou seis anos. Depois, fiz educação física. Em 1993, comecei meu estágio no Vitória. Fui estagiário por três meses e logo me contrataram como preparador físico de categorias menores. Trabalhei entre 93 e 2004 no Vitória como preparador físico, passei em todas as categorias. Em 2004, sai do clube e passei um ano sem trabalhar com futebol.  Passado esse tempo, tive proposta para trabalhar como treinador do Cruzeiro. Treinei por um ano num projeto do Cruzeiro, que era o Itaúna e me contrataram. Permaneci por cinco anos. Em 2011, numa vinda a Salvador, o atual coordenador da base, João Paulo, me convidou para trabalhar como auxiliar-técnico do Sub-20 do Vitória. Aceitei pra voltar pra casa. Fui auxiliar do Sub-20 por três anos e meio. E, em 2015, assumi a categoria como treinador do Sub-20.

 

DB - Por que você escolheu trabalhar com futebol? 

HM - Futebol foi tipo um trampolim dentro do que eu já gostava. Já gostava do esporte, o futebol me proporcionou o trabalho com prazer. Futebol é uma coisa que eu gosto, sou realizado trabalhando com futebol. Eu acho que, tem muito a ver com a minha personalidade. Gosto de trabalhar com jovens, independente da profissão, com a educação, com o ensino, sempre foi uma coisa que gostei.

 

DB - Como você lida com as alegrias e frustrações desses jovens?

HM - Você tem que ser um pai, na verdade. Temos que saber lidar com as alegrias e as tristezas, porque o futebol proporciona isso. Um dia você pode tá alegre, no outro você pode tá triste. Eles sofrem, porque muitos deles estão longe da família. Eu acho que, o mais importante é você saber lidar com os sentimentos deles sem julgá-los: se ele jogando bem, você elogiando ele; se ele jogando mal, você só criticando ele. Eles sofrem muito. A vida do atleta é muito sacrificada. Eu sempre falo pra eles que, ser atleta de futebol é diferente. Tem que ter sacrifício.

 

DB - Você menciona que trabalhou em categorias como a mirim e sub-20. O modo de trabalho se difere muito dependendo da categoria?

HM - Sim, os objetivos são os mesmos na divisão de base, desenvolver as qualidades técnicas, físicas e emocionais que esses atletas possuem, mas as formas de desenvolvê-las são diferentes em cada categoria. O grau de complexidade aumenta na medida que os atletas “sobem” de categoria. Penso que entre 12 e 15 anos devemos identificar as principais qualidades, desenvolvê-las de uma forma bem tranquila. Estimulando sempre a criatividade dos garotos, dando a eles a possibilidades de experimentar várias posições. A partir dos 15 anos devemos seguir desenvolvendo essas qualidades dando um grau de complexidade maior e com maiores responsabilidades também, com o objetivo de prepará-los para serem possíveis profissionais ou não.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DB - Já trabalhou com algum garoto que tinha pretensões elevadas e acabou não se tornando jogador profissional?

HM - Já, sim. Nesses 20 anos de trabalho, vários eram promessas de grandes jogadores e hoje trabalham como motoristas de ônibus ou em lojas. E isso é complicado, porque eles não se prepararam pra isso. Normalmente, eles se preparam e a sociedade prepara eles pra serem grandes jogadores e serem ricos, milionários. É uma frustração, que é terrível. E quando eu encontro esses atletas, pra mim, também é uma frustração, por não ter ajudado tanto pra ele ter o êxito que gostaria.

 

DB - Como ocorre o apoio por parte dos pais?

HM - A família deveria próxima o tempo todo. Principalmente, nessa fase entre 15 e 20 anos, que é a fase de desenvolvimento e de tomada de decisão na vida.  

 

"Já gostava do esporte, o futebol me proporcionou o trabalho com prazer. Futebol é uma coisa que eu gosto, sou realizado trabalhando com futebol"

 

 

DB - Como você vê o fator educacional proporcionado pelos clubes?

HM - Os clubes precisam investir mais na educação. Educação mesmo: na formação deles como homens. Não se pode obrigar, mas criar mecanismos pra que eles possam se educar. Ter uma formação diferente: uma educação diferente pra que eles tenham cultura e quando sair daqui pra outros países não passem por muitas dificuldades.

 

DB - Como você vê a estrutura das categorias de base no Brasil?

HM - Melhorou muito. Hoje, já existe uma atenção maior. Os clubes entenderam que, aqui é o futuro. Os jogadores ficaram muito caros, então, você tem que formar pra que fiquem mais baratos. Melhor você investir (na base) pra que eles sejam melhores, servir ao clube melhor. Melhorou demais, e a tendência é melhorar mais. 

DB - Hoje vemos que o futebol está mais tático que antes com países como a própria Rússia chegando nas quartas de finais da Copa do Mundo. Você acha que o Brasil ainda exerce a mesma influênciade no futebol atual? Por quê?

HM - Sim, muito tático. Isso faz com que equipes consideradas mais fracas possam igualar os jogos. Nos últimos anos, o futebol brasileiro vem sentindo a necessidade de mudanças. Os treinadores têm dado uma maior importância a parte tática do jogo, aliando a irreverência e criatividade dos seus jogadores brasileiros com tática europeia. Tem acontecido uma renovação de treinadores, que vem com ideias de um jogo mais tático sem perder as  características do futebol brasileiro.

DB - E a que você atribui esse nível tão próximo de seleções sem expressão como a Rússia à Espanha, por exemplo, eliminada pela anfitriã da Copa de 2018?

HM - Com a globalização as informações chegam para todos em um tempo menor. Os profissionais estudam os seus adversários e treinam para neutralizá-los nos seus pontos fortes. Tivemos uma copa do mundo que o que mais se destacou foi a tática, com muitas jogadas ensaiadas. Jogos muito estudados.

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Mendes passa instruções para o goleiro da categoria Sub-20 do Vitória, Ronaldo Oliveira, durante treinamento da Copinha de 2016

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