top of page
Kindermann vai em busca do décimo título do campeonato estadual em 2018 Foto: Andrielli Zambonin / AE Kindermann
Futebol feminino segue sem visibilidade e apoio no país no futebol masculino
A partir do próximo ano, os clubes que não mantiverem um time de futebol feminino ou estiverem vinculados a algum projeto já existente, não poderão participar de competições oficiais da Conmebol. O regulamento que foi divulgado pela entidade há mais de dois anos, pouco surtiu efeito na vida das jogadoras e do futebol feminino no Brasil, que continua convivendo com o descaso das entidades brasileiras.
Hoje, no Brasil as competições femininas não são consideradas profissionais; atletas não recebem salários, salvo em alguns clubes como Santos e Ferroviária, que assinam a carteira de trabalho das jogadoras. Além disso, ocorre uma disparidade entre as premiações das competições realizadas pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol): o Campeonato Brasileiro Feminino Série A-1 premiou o clube vencedor com um valor em torno de R$ 120 mil. Enquanto, o Corinthians, campeão da edição de 2017, recebeu uma bolada de R$ 18 milhões.
Nesse ano, a Caixa Econômica deixou de patrocinar o campeonato nacional. O aporte dado pelo banco estatal até o ano passado era de 10 milhões e não será mais repassado à agência Sport Promotion, responsável por organizar a competição. Outro fator é que, de acordo com um levantamento feito pela Unisinos, somente 2,7% da cobertura midiática aborda o futebol feminino. Um dos dados que impulsiona essa situação é a falta de transmissão televisa do principal campeonato do país: Série A-1 do Campeonato Brasileiro.
Esse cenário de desvalorização do futebol feminino afeta diretamente na formação das atletas. Muitas desistem do sonho de serem jogadoras para aderirem à outra profissão, na qual possam ter uma remuneração adequada. Para manter as atividades, os clubes fazem convênios com faculdades e buscam incentivos por meio de patrocínios para ao menos atender as necessidades básicas das jogadoras.
​
“Ocorre um frustração por parte das atletas (....). Colocamos uma menina da categoria Sub-14 para jogar no ano passado. Estávamos pulando uma etapa, esse não é nosso modo de trabalho”
​
Muito ainda se tem para evoluir no país do futebol masculino. Um dos exemplos que poderíamos seguir é da Noruega. Lá existe igualdade salarial entre homens e mulheres, bem como em prêmios e direitos de imagem para as seleções de futebol feminino e masculino. Enquanto no país de Marta, cinco vezes melhor do mundo e maior jogadora do futebol mundial de todos os tempos, a realidade é dura e persiste em deixar vários talentos morrerem.
​
Campeonato Catarinense tem somente quatro equipes na disputa
​
Um exemplo para ilustrar o futebol feminino no Brasil pode ser o Campeonato Catarinense, que inicia amanhã, 22 de setembro. Dos três times presentes na Série B do Campeonato Brasileiro masculino: Figueirense, Avaí e Criciúma; somente o time do sul do estado mantém uma equipe de futebol feminino. Os demais participantes são Kindermann, equipe de tradição e que disputa a Série A-1 do Brasileiro. Marcílio Dias, situado na cidade de Itajaí e que pela primeira vez conta com futebol feminino em suas atividades. E por fim, a Chapecoense, clube de Série A do campeonato masculino nacional, que assim como o Marinheiro participa pela primeira vez do competição.
A viabilidade financeira desses times se dá através de parcerias com Fundação de Esportes e Lazer como é o caso do Marcílio Dias. Ou através de convênios com faculdades como ocorre com o Criciúma. A Chapecoense mantém a equipe com recursos destinados pelo próprio clube e também agregou ao elenco jogadoras da Associação Desportiva Lourdes Lago- ADELL, projeto social desenvolvido em uma escola pública da cidade. O clube com mais nome no Estado e que disputa a Série A-1 do campeonato nacional, Kindermann, é dos poucos do país no qual as atletas recebem salários e não somente bolsas para ajuda de custo.
Napoli e Fluminense não participam do Campeonato em 2018
Entre os quatro times presentes no Campeonato catarinense do ano passado estavam Napoli e Fluminense. Ambos ficaram fora da edição de 2018 por questões financeiras e sequer conseguiram manter o futebol feminino até dezembro.
Após chegar à final do Estadual de 2017, o Napoli obteve uma vaga para disputar o Campeonato Brasileiro Série A-2 desse ano. Para participar das duas competições, a equipe teria um custo de R$ 400 mil contabilizando salários e ajuda-de-custo. De acordo com Jonas Estevão, Presidente do Napoli, o clube não tinha como manter esses valores e pagar as atletas durante três meses de inatividade – período entre o final do Brasileiro até o início do Catarinense -. As jogadoras foram liberadas para procurar novos clubes e algumas retornaram ao Kindermann.
O time de futebol feminino da cidade de Caçador começou depois de uma parceria com o Kindermann, que cedeu atletas ao Napoli para disputa do Catarinense de 2017. O investimento feito foi de R$ 100 mil e contou com a ajuda de nove patrocinadores. Estevão cita que, “a ideia é retomar as atividades do futebol feminino em 2019 através da categoria Sub-17”.
O Fluminense de Joinville assim como o Napole iniciou as atividades em 2017 e teve o trabalho interrompido nesse ano por falta de recursos financeiros. A participação no campeonato do ano passado foi possível por conta de uma ajuda-de-custo da Prefeitura de Joinville, que incluía os deslocamentos para os jogos e a alimentação. A equipe foi formada por atletas da cidade e tinha como treinador Ivens Gomes de Almeida, que acumulava as funções de técnico, preparador físico e preparador de goleiros. Além disso, Almeida bancava do próprio bolso parte dos recursos destinados à participação da equipe no campeonato.
O ex-treinador do Fluminense aponta que além de motivos financeiros, a questão psicológica das atletas também foi um dos fatores preponderantes para não participaram da competição nesse ano. “Ocorre um frustração por parte das atletas (....). Colocamos uma menina da categoria Sub-14 para jogar no ano passado. Estávamos pulando uma etapa, esse não é nosso modo de trabalho”, conta o atual treinador da equipe de futebol e futsal de Joinville.
​
Dados gerais dos times participantes do Catarinense 2018
​
CHAPECOENSE
​
Plantel: 60 atletas entre base (sub-15/sub-17) e adulto
Treinador: Silvio Faccin da Rosa
Investimento: aproximadamente R$ 800 mil anual
Folha: não possuíam o valor.
Média de idade: 17 anos
Locais dos jogos: Arena Condá, CT Água Amarela e outros.
CRICIÚMA
Plantel: 26 atletas na categoria Sub-20. Mantém também as categorias Sub-13, Sub-15 e 17.
Treinadores: Sabrina Cassol e Marcelo da Silva
Investimento: não possuíam esse valor
Folha: R$ 15 mil por mês
Média de idade: entre 16 e 21 anos
Local dos jogos: CT DO Criciúma
KINDERMANN
Plantel: 22 atletas + 5 integrantes da comissão técnica
Treinador: Jorge Barcellos
Investimento: 1,5 milhões por ano
Folha: 60 mil mensal
Média de idade: 24 anos
Local dos jogos: Estádio Municipal Doutor Carlos Alberto da Costa Neves.
MARCÍLIO DIAS
Plantel: 23 atletas com idade entre 17 e 27 anos
Treinador: Ailton Belizario
Investimento: não foi informado
Folha: não foi informado
Média de idade: Sub-17 (algumas atletas acima de 23 anos)
Local dos jogos: Estádio Doutor Hercílio Luz
Foto: Comunicação Ass. Chapecoense
Fluminense não manteve o futebol feminino por falta de recursos
bottom of page